sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

A Lei de Deus

Por R.C. Sproul




"Ao resumirmos o que constitui o verdadeiro conhecimento de Deus, mostramos que não podemos formar qualquer concepção justa do caráter de Deus, sem nos sentirmos intimidados por Sua majestade e compelidos a serví-Lo".
​​João Calvino​​​


Ontem, um homem que eu encontrei pela primeira vez perguntou-me. “E o que o Senhor está fazendo na sua vida?” (Algo na maneira como ele fez a pergunta, o tom da sua voz, e o seu jeito, incomodou-me.) A maneira de perguntar foi um pouco casual demais, como se a expressão fosse mecânica. Eu ignorei o meu incômodo e respondi a questão como se ela fosse sincera. Eu disse: “Ele tem me impressionado com a beleza e a douçura da Sua Lei”. Obviamente, o homem não estava preparado para minha resposta. Ele me olhou como se eu fosse de outro planeta. Visivelmente ele reagiu as minhas palavras como se eu fosse estranho apenas por tê-las proferido.

Nós estamos vivendo em uma era na qual não se tem dado muita atenção a Lei de Deus, nem secularistas nem Cristãos. A lei, nós assumimos, é uma relíquia do passado, parte da história do cristianismo judaico, para ser mais exato, mas sem relevância duradoura para a vida Cristã. Estamos vivendo, na prática, a heresia antinominiana.

Uma pesquisa recente feita pela George Gallup Jr. revelou uma tendência surpreendente em nossa cultura. De acordo com a Gallup a evidência parece indicar que não existem padrões de comportamento que distinguam os Cristãos dos não-Cristãos em nossa sociedade. Parece que estamos todos marchando na mesma bateria, olhando para os padrões de mudança da cultura contemporânea baseados no que é conduta aceitável. O que todo mundo está fazendo parece ser nossa única regra ética.

Este padrão somente pode emergir em uma sociedade ou em uma igreja em que a Lei de Deus está eclipsada. A própria palavra lei parecer ter um elo desagradável em nossos círculos evangélicos.

Vamos fazer uma experiência. Eu vou citar algumas passagens do Salmo 119 para nossa reflexão. Eu peço que você os leia experimentalmente, no sentido de sentir na pele e identificar-se de modo a compreender o autor. Tente sentir o que ele sentiu quando escreveu essas linhas milhares de anos atrás.

"Oh! quanto amo a tua lei! ela é a minha meditação o dia todo" - v. 97.

"Os teus testemunhos são a minha herança para sempre, pois são eles o gozo do meu coração.
Inclino o meu coração a cumprir os teus estatutos, para sempre, até o fim" - v. 111-112.

"Abro a minha boca e arquejo, pois estou anelante pelos teus mandamentos" - v.131.

"Tribulação e angústia se apoderaram de mim; mas os teus mandamentos são o meu prazer" - v. 143.

Por acaso isso se parece como o cristianismo moderno? Acaso nós temos ouvido falar sobre pessoas que tem ânsiado apaixonadamente pela Lei de Deus? Nós temos ouvido nossos amigos expressando alegria e deleite nos mandamentos de Deus?

Estes sentimentos são estranhos para nossa cultura. Alguns certamente diriam: “Mas isto é coisa do Velho Testamento. Nós fomos redimidos da lei, agora nosso foco está no evangelho, não na lei”.

Vamos continuar a experiência. Vamos ler alguns trechos de outro escritor bíblico, mas desta vez do Novo Testamento. Vamos ouvir de um homem que amava o Evangelho, pregou-o e ensinou-o mais do que qualquer mortal. Vamos ouvir Paulo:

"Mas agora temos sido libertados da lei, tendo morrido para aquilo em que estávamos retidos; para
que sirvamos em novidade de espírito, e não na velhice da letra" - Rm 7v6.

"Mas o pecado, tomando ocasião pelo mandamento, operou em mim toda a concupesciência;
porquanto sem a lei estava morto o pecado" - Rm 7v8.

"E assim a lei é santa, e o mandamento santo, justo e bom" - Rm 7v12.

"E porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus" - Rm 7.22.

Isto parece vir de um homem que acreditava não haver lugar para a lei de Deus na vida cristã? Leia Paulo cuidadosamente e você irá encontrar um homem cujo coração ansiava pela lei de Deus tanto quanto Davi ansiava.

A história da igreja testemunha que em períodos de avivamento e reforma existe um profundo despertamento pela doçura da Lei de Deus que pode facilmente transformar-se em legalismo, o qual comumente motiva uma reação antinominiana. Nem o legalismo nem o antinomianismo é bíblico. A lei nos conduz ao evangelho. O evangelho nos salva da maldição da lei, mas por sua vez nos leva de volta à lei para alcançar o espírito, a bondade e a beleza da lei. A lei de Deus é ainda uma lâmpada para os nossos pés. Sem ela nós tropeçamos na viagem e tateamos na escuridão.

Para o cristão o maior benefício da lei de Deus é seu caráter revelatório. A lei nos revela o legislador. Ela nos ensina o que é agradável ao Seus olhos. Nós precisamos buscar a lei de Deus - desejando-a - e deleitar-nos nela. Algo menor do que isto é uma ofensa contra o Pai, o Filho e o Espírito Santo.